12 de agosto de 2014

Um treinador recordista

A partir deste mês, o IJC vai apresentar as pessoas que ajudam o Instituto a se consolidar como um local de transformações. Vamos contar trajetórias de vidas conhecidas ou anônimas, mas que carregam em si algo de extraordinário. O escolhido para estrear esse espaço tem muito em comum com Joaquim Cruz. Hudson de Souza já participou de três olimpíadas e é dono de cinco recordes panamericanos. Teve o privilégio de conquistar o bicampeonato na prova dos 1500m em casa, no Pan do Rio, em 2007. 

Com esse histórico, é difícil acreditar que o atleta começou a correr contra a vontade, devido à insistência de um professor que ia busca-lo em casa. Na época, Hudson tinha apenas 13 anos e combinou com João Sena, seu primeiro treinador, que iria se dedicar durante dois meses para um campeonato. O empenho levou o garoto ao terceiro lugar no ranking juvenil. E os resultados rápidos motivaram a mudança de Sobradinho (DF) para São Paulo, onde foi treinar no Sesi de São Caetano.

Depois, a história de Hudson se cruzou com a de Joaquim Cruz. O mesmo técnico responsável pelo treino do atleta que deu ao Brasil o único ouro olímpico em prova de pista convidou Hudson de Souza para treinar em San Diego, na Califórnia. Com Luiz Alberto, Hudson ganhou duas medalhas de ouro no Pan de Santo Domingo em 2003 (5000m e 1500m), ouro no Rio em 2007 (1500m), prata em Guadalajara em 2011 (3000m com obstáculo) e bronze em Winnipeg (1999), ao estrear na competição – um terceiro lugar conquistado mesmo com uma fratura por estresse na tíbia. 

Apesar de tantas vitórias, os dois momentos que mais marcaram a carreira de Hudson não vieram acompanhados de medalha. A maior realização pra mim foi chegar pela primeira vez nos Jogos Olímpicos, em Sidney. Depois, veio o Campeonato Mundial da França, em 2003. “Eu considero como a melhor competição. Bati na trave, corri o que tinha para correr, mas os caras correram muito”.

Hudson conta que não teve muita sorte nas olimpíadas. “Em Atenas eu estava muito bem, tinha batido o recorde do Joaquim. Mas faltando quatro dias para correr as eliminatórias dos 1500m, estourou uma hérnia inguinal”. Mas ele sabe que chegou longe, representou bem o país e encheu a família de orgulho. Sua trajetória hoje inspira os atletas do Pro- grama Rumo ao Pódio Olímpico, do Instituto Joaquim Cruz.

E lá, ele não é apenas um ídolo. É como treinador que transmite aos jovens a experiência de tantas competições e conquistas, e a filosofia de trabalho aprendida com Luiz Alberto. Quando recebeu o convite para trabalhar no projeto, Hudson hesitou. Havia encerrado a carreira em 2012 e planejado uma longa viagem. Precisou ser convencido pelo diretor do IJC, Ricardo Vidal.

Sua história pregressa indica que a resistência inicial é um começo promissor para Hudson de Souza. E os resultados que começam a aparecer no PRPO parecem provar que essa não é apenas uma coincidência. 





5 de agosto de 2014

Ouro olímpico de Joaquim Cruz completa 30 anos


Após três décadas, o título continua inédito no país, e o atleta proporciona a jovens carentes a oportunidade de praticar o esporte que transformou a sua vida


6 de agosto de 1984. O dia que consagrou o brasileiro Joaquim Cruz foi também um momento de glória para o atletismo nacional. Quem acompanhava a final dos 800m rasos nas olimpíadas de Los Angeles vibrou com a arrancada de Joaquim, que na última curva saiu do terceiro lugar e abriu uma vantagem de cinco metros à frente do segundo colocado e recordista na prova, Sebastian Coe.

O Brasil não ganhava uma medalha de ouro no atletismo desde a conquista de Adhemar Ferreira da Silva, em 1956. E ao cruzar a linha de chegada no Memorial Coliseum, Cruz entrou para a história não só por alcançar o lugar mais alto do pódio. Com o tempo de 1m43s, ele bateu o recorde olímpico, que só foi superado doze anos depois, em Atlanta. E conquistou também um título até hoje inédito: foi o primeiro e único brasileiro a ganhar medalha de ouro em prova de pista nos jogos olímpicos.

Aos 21 anos, o atleta cumpriu o que havia profetizado ao escrever num antigo diário que, em sua primeira olimpíada, iria para vencer e não apenas para competir. E as palavras de Joaquim tiveram força para mudar também outras histórias. Em 1999, Cruz trouxe uma mala cheia de tênis para distribuir a atletas que iriam participar de uma corrida de rua no Maranhão. A bagagem ficou retida na alfândega porque o agente da Receita Federal desconfiou que os calçados seriam comercializados.

Desfeito o mal entendido, Cruz foi perguntado se o episódio inibiria a iniciativa de trazer os pares de tênis. E a resposta de Joaquim traçou o destino de outros jovens: Da próxima vez vou trazer o dobro e fundar o Clube dos DescalSOS. Em 2003, nasceu o Instituto Joaquim Cruz (IJC), para estruturar as ações do projeto social Clube dos DescalSOS/Caixa.

Inspirados pela trajetória do campeão olímpico que nasceu em Taguatinga e corria descalço pelas ruas parques da região, 120 crianças e jovens carentes treinam atletismo em pistas localizadas em duas cidades satélites e no entorno do Distrito Federal. Eles recebem orientação esportiva e cidadã, uniforme, complemento alimentar e participam de competições. Joaquim sabe que muitos ali não vão seguir carreira no atletismo, mas terão a oportunidade de aproveitar outras portas abertas pelo esporte.

O que um garoto pode conseguir com o esporte é gigante. Ele ganha saúde, conhecimentos, experiências. Com 15 anos, tive oportunidade de ver a Monalisa, de conhecer muitos países. Como conseguiria fazer sem o esporte?  Em visita recente feita ao Clube dos Descalsos/Caixa, Joaquim incentivou os integrantes e ressaltou que tem muito em comum com todos eles: Eu também saí de um lugar humilde. E daqui podem surgir grandes campeões. O primeiro e mais importante passo é sonhar. E sonhar é de graça.



Os passos de Joaquim motivaram também a criação do segundo projeto no IJC, o Programa Rumo ao Pódio Olímpico (PRPO), cuja meta já vem traçada no nome.  Com apenas dois anos de funcionamento, o PRPO já apresenta resultados expressivos, como o título de vice-campeão sulamericano de um dos integrantes. Esses jovens são a continuidade do meu sonho, conclui Joaquim Cruz. Apesar de viver há 33 anos nos Estados Unidos, onde orienta atletas militares e olímpicos, é na terra natal que ele deposita o seu legado, ao semear oportunidades para que outros jovens conquistem o mundo correndo.   





9 de julho de 2014

Gente que transforma a cidade

A edição comemorativa de um ano da revista Veja Brasília fez uma homenagem aos moradores que ajudam a fazer da capital federal um lugar melhor. Manuel Evaristo, treinador do Projeto Cube dos DescalSOS/CAIXA, do Instituto Joaquim Cruz, foi um dos destaques da reportagem. 


Em 1997, Evaristo montou um projeto esportivo-social no Recanto das Emas, onde as crianças podiam praticar o atletismo mesmo sem ter o que calçar. O IJC abraçou a iniciativa e criou o Clube dos DescalSOS/CAIXA. Hoje, os participantes  treinam em melhores condições e competem até mesmo fora do Brasil.